Por: Alan Schlup Sant’Anna (escritor, palestrante e consultor)
"Poucos são os que compreendem de modo claro a tragédia humana produzida pelo consumo de bebidas alcoólicas.
Em nosso país as carteiras de cigarro ostentam fotos de doentes terminais e frases como “fumar pode causar doenças do coração e derrame cerebral”.
Por outro lado e, de modo quase hipócrita, as garrafas de bebidas alcoólicas vêm acompanhadas de comentários como “aprecie com moderação”. Por que estas garrafas não trazem fotos de vítimas de acidentes causados por motoristas embriagados?
Ao contrário do que muitos acreditam, a tragédia do álcool se estende muito além dos cerca de 10 milhões de alcoólatras no Brasil.
Dos demais 180 milhões de brasileiros a maciça maioria bebe; alguns um pouco, outros bastante. Muitos não dependentes se embriagam com freqüência.
O álcool afeta de modo grave a autocrítica. Assim, sob efeito desta droga, perde-se grande parte da capacidade de discernimento e tomam-se decisões estúpidas como assassinar alguém, aceitar uma carona suspeita ou dirigir a 190 km/h dentro da cidade. Sim, sob efeito do álcool as pessoas fazem tudo isto e muito mais.
Qual é a minha proposta?
Mantenha distância do álcool, simplesmente não consuma bebida alcoólica nenhuma e isto inclui a cervejinha.
Radicalismo de minha parte, alguns dirão.
Mas eu vou dizer a você amigo, o que eu penso que é radical.
Radical é ver diariamente pessoas serem dilaceradas porque inconseqüentes se embriagaram antes de dirigir.
Radical é ver dois jovens de 20 e 26 anos, em minha cidade, terem suas vidas ceifadas em tão tenra idade por um motorista alcoolizado.
Radical é ver as vidas de quatro pessoas serem eliminadas na esquina da rua de meus pais por outro motorista que se recusou a fazer o teste do bafômetro.
Radical são 35.000 mortos por ano no trânsito brasileiro.
Metade destas pessoas foi morta pela vulgar cachaça, pelo “elegante” vinho ou pela “inocente” cervejinha consumidas pelo inconseqüente motorista.
Então meu amigo? Será a minha proposta de defesa da vida radical?
É inconcebível que se permita a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina.
É inconcebível que em uma festa de escola sirva-se álcool aos professores.
Eu sempre pensei assim?
Não. Quando jovem consumi e presenteei pessoas com álcool. Mas percebo hoje a gravidade de meu erro.
A tragédia do álcool é profunda na vida de suas vítimas e extensa por envolver literalmente dezenas de milhares de pessoas anualmente. Esta tragédia não envolve apenas o trânsito, mas a violência nas ruas e nas casas, as doenças causadas pelo álcool e a redução de produtividade.
Sensibilizar as pessoas para a terrível ameaça, dor e destruição causada pelo álcool não é fácil. Em nosso país, como em quase todo o mundo, é cultural beber. As pessoas acham isto natural e até bonito.
A indústria de bebidas gera empregos, divisas e riquezas para o país, isto é inegável. Mas se vamos falar em economia, façamos as contas de quanto esta droga nos custa em destruição de veículos, tratamentos caríssimos para as dezenas de milhares de feridos, redução da força de trabalho pela morte de dezenas de milhares de pessoas em idade produtiva, redução de produtividade no trabalho, absenteísmo nas empresas porque o trabalhador estava de ressaca e um sem fim de outros prejuízos. Não é preciso ser economista ou gênio da matemática para concluir que o álcool nos custa muito caro.
Quanto aos empresários e pessoas envolvidas nesta indústria é preciso que compreendam que seu negócio mata pessoas diariamente. Vale à pena?
Sim, o vinho tinto em doses moderadas é bom para o coração, mas o exercício físico e o suco de uva também são.
É evidente que o álcool tem aspectos positivos, mas e daí, a guerra também tem. O importante a considerar é que o saldo é negativo, em ambos os casos.
Consumir álcool é quase tão estúpido quanto fazer guerra. Ambos matam e destroem.
E o que eu e você podemos fazer por um mundo mais consciente, mais sóbrio, mais seguro?
Comece pelo exemplo. Não beba!
Vamos compartilhar a vida de cara limpa, sóbrios e conscientes de nosso papel como agentes de um amanhã melhor."
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL GAZETA DO POVO EM 06.01.2010
Na verdade, não se tem mais noção do limite entre o "consumo moderado" e o "consumo excessivo". Tem gente que já sai de casa planejando que vai beber 20 chopps naquele dia...
ResponderExcluirA questão das drogas é algo muito louco para mim. Eu tive alguma vivência com dependentes e o álcool é uma "porta de entrada" para as drogas muito mais óbvia do que a maconha. Estudos seríssimos foram feitos com maconheiros dirigindo e sobre maconha e agressividade e, no final das contas, ninguém tem acidentes no trânsito pq fumou muita maconha, ninguém mata ninguém pq fumou maconha (nem sai brigando por aí), ninguém morre de enfizema e câncer porque fuma maconha e a fama da maconha como "porta de entrada" para as drogas é totalmente injusta. No entanto, ela tem seus malefícios, principalmente quando usada em altas doses na adolescência.
Eu não uso nenhum tipo de droga, nem adoro maconha e maconheiros, mas eu acho MUITO HIPÓCRITA o álcool e o cigarro serem drogas lícitas enquanto que todo o resto, não.
Mais do que o exemplo, eu acho que a educação sobre a utilização de drogas deveria ser algo muito sério e intenso. As pessoas usam drogas, vão usar, sempre usaram. Droga, não é uma droga, se fosse, as pessoas não prefeririam ir definhando e, mesmo assim, continuarem usando. Falar isso é hipócrita.
Mesmo quando elas são responsabilizadas pelo uso de drogas, como nos países escandinavos (onde o governo fornece drogas para viciados) é muito cruel a realidade do adicto. Criar zonas especiais para drogados, também não funcionou.
Portanto, amigo, essa questão que vc levantou é muito séria! E até agora não vi solução.
Este é um artigo publicado por um conhecido meu, que é palestrante, escritor e consultor de empresas.
ResponderExcluirAchei interessante colocar o que ele escreveu para analisarmos nossas condutas com relação ao álcool e confesso, é uma questão realmente muito delicada, pois é polemizada quando comparam o álcool com outras drogas.
Muitos têm como parâmetro a liberdade de escolha feita pelos indivíduos. Outros, discriminam até essa excessiva liberdade. Moriah disse tudo! As drogas sempre ocuparam espaço na história. Portanto, controlar os axcessos e combater os malefícios que ela propicia para terceiros, já está de bom tamanho! Agora proibir, em especial essas drogas que se mantém liberadas há anos, como cigarro e alcool, é um desafio que só o tempo pode ditar os limites.
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