Longe de entrar no mérito dos trabalhos dos engenheiros e advogados, mas apenas quero deixar uma opinião com a questão do EQUILÍBRIO PROFISSIONAL na atual sociedade brasileira.
O Brasil precisa urgentemente formar (ou importar) milhões de engenheiros, tecnólogos e técnicos de nível médio e pós-médio, principalmente na área de exatas do que em ciências humanas e sociais, para se tornar uma verdadeira potência econômica, científica, tecnológica e militar.
Para começar, o Brasil já possui milhares de faculdades de Direito, Administração e outros da área Humanas, não dando tanta oportunidade em outras áreas. Por quê? Porque o custo é menor para tais áreas. E ainda há um papo que rola por aí em que "o importante é ter pelo menos um curso superior", isto é, não importa o curso específico em si, mas a formação. E aí, basta para concorrer a diversos concursos públicos que apenas exigem curso superior em qualquer área. Só para comparar: Só o Brasil possui em torno de 1.240 faculdades de Direito, enquanto que o resto do mundo possui 1.100.
E como os concursos públicos da área judicial, legislativa e fiscal são os que mais atraem as pessoas devido à alta remuneração, há uma procura substancialmente maior nos cursos de Direito, Administração, Contabilidade, etc... apenas para tentar ingressar em tais concursos. Com isso, o número de advogados com a carteira da OAB está próximo de 900 mil e o número de bacharéis de Direito, só no Brasil, é maior que 3 milhões e o número de graduandos é maior que 4 milhões em nosso país. Já o número de faculdades de engenharia no Brasil e o número de formandos não aumentam de forma razoável, tanto em números relativos quantos absolutos.
Não é à toa, por isso, que o nosso país é campeão em "recursos em cima de recursos" em diversos casos judiciais pelo país afora. Precisa mesmo de muitos profissionais da área para isso.
Enquanto isso, nosso setor das áreas exatas e tecnológicas caminham a passos de tartaruga, se comparando com outros países como Chile, Argentina e Índia (e nem precisa discutir com EUA e outros países desenvolvidos).
Penso que possuímos uma cultura que valoriza muito o entretenimento (todos os tipos de lazer), as artes (principalmente, as músicas populares e as novelas), os esportes (principalmente, o futebol), as ciências humanas (principalmente, o curso de Direito) do que a pesquisa, o desenvolvimento, a invenção, a inovação e os negócios em engenharias e em ciências exatas. Sim, só para se ter uma ideia, em 2009, o Brasil era responsável por apenas 0,3% das patentes internacionais registradas. Em números absolutos, 450 patentes. Mas a empresa Huawei Technologies, da China, sozinha teve 1.800 patentes registrados.
E já parou para pensar, por que no Brasil não existem quase eletrodomésticos, eletrônicos, celulares, computadores, veículos, motos, aviões, entre outros de tecnologia 100% nacional? E por que a indústria nacional sempre precisa importar todo tipo de máquinas e equipamentos (bens de capital) para modernizar seu parque industrial? Simplesmente, porque quase toda esta tecnologia foi inventada e patenteada pelas maiores multinacionais estrangeiras e não por nossas indústrias, empresas e universidades.
Nos EUA, a parceria entre as indústrias e as universidades para a produção de tecnologia avançada é uma prática corriqueira e natural. Infelizmente, a cultura governamental brasileira de pré-conceito à iniciativa privada e a arrogância e ignorância de muitos políticos e funcionários públicos das três esferas do poder (Executivo, legislativo e judiciário) em relação às boas idéias liberais e capitalistas que deram muito certo em todos os países desenvolvidos, somada a falta desta vontade política e a corrupção, impediram até hoje, o nosso desenvolvimento. Contrariamente, todos nós somos forçados a sustentar uma enorme e ineficaz máquina governamental, com uma folha de pagamento gigantesca e com despesas correntes crescentes que acabam por onerar a toda à população que paga impostos de primeiro mundo e não possui acesso a serviços públicos no mesmo nível. (Fato mais que manjado por nós)

Um dos problemas da falta de profissionais no ramo das exatas começa na escola. A tradição brasileira é de dar pouca importância às matérias de exatas. E o resultado é um desinteresse massivo por elas. Hoje, mais da metade das disciplinas universitárias estão ligadas a engenharia e a outras áreas de exatas. Mas só 1 em cada 5 alunos do ensino superior está cursando alguma delas. Existem mais estudantes de música que de engenharia mecatrônica. Jornalismo goleia engenharia civil. Psicologia ganha de engenharia elétrica. Resultado: o Brasil tem hoje 6 engenheiros para cada 1 000 trabalhadores. Os EUA, 25.
E os novos universitários não têm um perfil exatamente... universitário. Dois terços dos estudantes da classe C (com renda familiar de R$ 2 mil a R$ 5 mil) têm entre 26 e 45 anos. É gente que trabalha desde sempre e escolhe o que vai estudar com um olho no mercado de trabalho e o outro também. Nisso a preferência tende a ser por cursos onde faltam profissionais, justamente os mais técnicos. Enquanto as classes A e B tendem mais para humanas, a C quer exatas.
Repito aqui que não quero desmerecer jamais o trabalho do advogado, do psicólogo... enfim de todos os profissionais da área humana (eles são essenciais em qualquer sociedade), mas deixar claro que o nosso governo ainda não faz as devidas mudanças de estrutura social-política-econômica-educacional (palavra inventada ^^) para suprir as necessidades do progresso real de uma nação. É preciso valorizar os engenheiros da mesma forma que são valorizados os advogados, buscando um equilíbrio no progresso do país.
Adaptado com os textos de Eugenio Mussak (professor do MBA da FIA e consultor da Sapiens Sapiens) e Alexandre Versignassi (na revista SUPER).