23 de abr. de 2010

Fim das Lan Houses? No Brasil Ainda Não.

Texto por Sérgio Eidi (gizmodo.com.br) - Adaptado

"Lugar mal iluminado, cheio de moleques com a cara enfiada em telas coloridas, empenhados em matar inimigos a facadas." Nos últimos anos, a frase acima casaria perfeitamente com "ir jogar Counter Strike na Monkey". Não mais: a mais famosa franquia de lan houses do Brasil, fechou este mês as portas de sua última loja, em uma área nobre de São Paulo. E marca o fim de uma era.

Tidas como "fliperamas modernos", as lan houses tiveram na "Monkey Lan4Fun" um modelo. A rede chegou a ter mais de 60 lojas pelo Brasil, com foco primário nos jogos em rede e máquinas potentes - ao contrário dos cybercafés da época, voltados para serviços básicos de internet. A sua história durou doze anos. Este mês, a Monkey colocou todos os seus equipamentos à venda. Segundo nota no site da empresa, eles continuarão a prestar serviços de consultoria e eventos.

É uma pena. Na época do lançamento, em 1998, a franquia entrou agressivamente no mercado, virando praticamente sinônimo de lan house. Sua rápida e abrangente expansão atraiu muitos olhares para este novo tipo de empreendimento - e também uma enorme concorrência. Seu grande problema na disputa de mercado era a informalidade dos concorrentes. Muitos deles praticavam preços baixíssimos - afinal, a maioria sequer era legalizada (apenas 1% tem alvará), e softwares piratas eram apenas parte dos problemas. A debandada para a concorrência começou a crescer. E isso não foi de todo ruim. A facilidade, proximidade com áreas mais carentes e o baixo preço dessas concorrentes informais ajudou na rápida inclusão digital - 24 dos 38 milhões de usuários de lans são das classes C, D e E.

Outros fatores também colaboraram para a derrocada da Monkey - e das outras lan houses em geral: as conexões de internet domésticas ficaram mais rápidas e mais baratas, aumentando a base de usuários de banda larga no País. Exatamente duas semanas depois do fechamento da Monkey, uma pesquisa mostrou que, pela primeira vez, as conexões à internet residenciais superaram as feitas por lan-houses (48% a 45%).

Os preços de hardware também ficaram mais acessíveis para o consumidor doméstico, fazendo com que, aos poucos, a gurizada começasse a jogar em casa, e de graça. Os pais também preferiram "investir" no equipamento - do ponto de vista de segurança, era muito melhor do que deixar a molecada na rua. Para os usuários mais abastados, havia também a questão dos videogames de última geração. Gráficos excepcionais já não eram exclusividade do PC - afinal, os consoles eram muito mais baratos e mais fáceis do que um full upgrade no computador de casa. Microsoft e Sony criaram redes exclusivas para seus aparelhos (Live e PSN, respectivamente), fazendo com que a jogatina online fosse tão fácil quanto era no PC.

Nesse meio tempo, tanto a Monkey quanto as demais redes tentaram se reinventar no quesito jogatina. Muitas viraram centros de moedas virtuais para RPGs online. Algumas lojas passaram a permitir BYOC (Bring Your Own Computer) Parties, oferecendo infraestrutura completa de rede como cortesia. Não pegou; embora fosse comum nos EUA e Coreia, carregar PC pra lá e pra cá não dava certo no Brasil. Nada disso funcionou para manter o status de fliperama moderno.

As sobreviventes procuraram dar maior ênfase aos serviços de internet, buscando clientes que trabalham direto na rua e precisam de um lugar pra checar emails, acessar sites, msn, orkut. Em regiões mais pobres, elas continuam cumprindo o papel, que pode ser oficializado pelo governo: há oito projetos de lei que pretendem dar benefícios para a legalização das casas na Câmara dos Deputados, e uma comissão específica para verificar a situação das casas.

O principal objetivo da comissão, segundo o relator, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), é propor uma legislação que transforme as lan houses em centros de inclusão digital e estabeleça mecanismos de proteção para crianças e adolescentes. "O nosso objetivo é construir uma regra nacional que classifique a lan house como centro de inclusão digital popular”.

Pode ser que essas lojinhas de bairro, meio "mambembes", ilegais até, se salvem. Mas projetos como o Banda Larga Popular farão, cada vez mais, a internet migrar das lan houses para dentro das casas. Em tese, o modelo ortodoxo de negócios das lan houses, como o conhecemos, está em fase terminal. É claro que a Inclusão Digital doméstica brasileira ainda está muitíssimo aquém em relação a outros países, como os da Europa, mas mesmo caminhando a passos de tartaruga, o Brasil tem potencial para melhorar seu campo no mundo digital.

E a vida é assim. Tecnologia é um "troço" muito bom, mas canibal. Ao ler a notícia sobre o fim da Monkey, senti uma pontinha de melancolia, como tive ao ver o fliperama do bairro sendo fechado ou como um "legado" fechando um negócio que poderia ser promissor... Aliás, fliperama? O que significa isso nos tempos atuais? Apesar de cada vez mais termos recursos para jogar online em casa, não dá para se comparar, em termos de diversão, quando a gente jogava "Counter Strike" na lan house como foi a da Monkey com uma galera e gritar "head-shot!" ou "humiliation" e zoar para o coitado da sua frente ou do seu lado quem está jogando também. Cada vez quando muda-se a tecnologia, muda-se também comportamentos sociais...

9 comentários:

  1. No Japão, as Lan Houses oferecem conforto com: comidas, bebidas, privacidade, sofá confortável, internet rápida, sala de outros jogos nas proximidades, etc. E ainda é possível pernoitar no local. Um perfil de comportamento e educação diferenciado, possibilita tais situações. Abraços!

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  2. Bom, eu como gamer caseiro, não curtia jogar na LAN, mas entendo esse sentimento de melancolia que o texto quer passar. Não apostaria no fim das LAN houses. Só na diminuição das que possibilitavam jogar. A propósito, era um transtorno acessar a net cercado de players gritando ao meu redor. Pode parecer chato de minha parte, mas foi um caso extremo com direito até de pedido de desculpas pelo proprietário do local.

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  3. @Milton: Eu tive o prazer de frequentar as "LAN HOUSES" do Japão, aliás, eles não chamam de lan houses e sim, "Mangá Kissaten" e os japoneses muitas vezes, nem vão pra lá para acessar internet. Vão para ler mangás, jogar videogames online, karaokezar, comer e beber... enfim, é um verdadeiro centro de entretenimento. ^^

    @Kodi: eu não era frequentador assíduo de LAN HOUSES no Brasil, mas bem que de vez em quando ia jogar CS com alguns amigos e era mais divertido jogar nas LANS que em casa online. Com a Internet entrando cada vez mais rápida nas nossas casas, ir nas lans apenas para jogar computador ou acessar internet acaba não tendo mais sentido, daí a derrocada da MONKEY e outras grandes lan houses no Brasil. Ainda vão funcionar as pequenas lans aqui, pois as classes D e E ainda não possuem internet e quando possuem ainda são discadas...

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  4. Ah, eu sempre que passo na porta de uma lan house reparo no movimento, etc. Sempre estão cheias, eu percebo que muitos adolescentes vão nas lans pra se encontrarem, ficam lá conversando, paquerando. E também tem as pessoas que ainda não tem internet em casa. Acho que ainda demora um pouco pra deixar de existir.

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  5. E teve aquele evento do cosplays na LAN, não sei se você ficou sabendo.

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  6. Algumas (não tão grandes)Lans daqui da minha cidade continuam firmes e nos shoppings existem bancadas nos corredores para o povo acessar internet rápida. Como disse, no Brasil o negócio ainda compensa, mas em outros países (como no Japão), o conceito de LAN HOUSE já não existe mais. Tem que ter um diferencial no negócio e não ter apenas internet rápida.

    Cosplays na LAN? não tava sabendo não... foi aqui no Brasil?

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  7. Meu, tudo pode acabar, menos as lan-houses!!! Rs
    E aí meu, como vc está?
    Eu cara, me adicione no msn, eu até hoje não tenho vc, danigimenes79@hotmail.com
    Valeu pelos comentário na foto, acabei de postar um vídeo que fiz sobre a cidade, quando puder dê uma olhada. Abraços para todos aí amigão, especialmente para este anjo que é a sua mãe!
    Saudades!

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  8. Ocho, parabenizo você por postar esse texto (de minha autoria) e citar o nome do autor, da fonte, e ainda citar que foi adaptado. Se todos os blogueiros do Brasil tivessem essa ética de citar as fontes, nossa blogosfera seria muito mais confiável.
    Parabéns e obrigado!
    Sergio Eidi

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  9. Wow. Valeu pelo elogio, Sergio. Tenho colocado sempre as fontes de textos que coloco no blog por questão de ética. Os blogs são feitos para divulgar ideias, mas sem esquecer de por suas fontes. Abraços.

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